terça-feira, 5 de maio de 2015

Invasão a localidade AXIXÁ ! Instituto Histórico com o a policia militar para intimidar moradores retira panela gigante que era usada para fazer a comida de escravos

O caso aconteceu na manhã do último sábado, 2, na Comunidade Axixá que cuida há bastante tempo de uma panela gigante que, pela história contada geração após geração na localidade, entende-se que tenha sido usada para alimentar escravos que naquela região trabalharam.

Sustentam que não a encontraram enterrada, a trouxeram do local onde foi vista, colocando-a em exposição no terreiro de uma das residências do povoado e, desde então, passaram a tê-la como objeto estimado, patrimônio da comunidade e de valor até religioso, uma vez que Axixá também pratica a umbanda, culto afrodescendente bastante difundido em Codó.

Quando nossa reportagem chegou a local encontramos apenas o morador Francisco Alves da Silva que, sozinho, uma vez que a visita do Instituto Histórico e Geográfico do Codó, segundo os residentes, não fora de nenhuma maneira avisada, já se preparava para defender a panela.

Dizia que ela poderia ser levada para a cidade, mas só depois que todas as 93 famílias fossem ouvidas e com a retirada concordassem.

“Tem que ter reunião pra poder levar essa panela daqui, nós num pode pegar essa panela botar em cima de carro, sem todo mundo não combina…OU SEJA, TODO MUNDO TEM QUE SER OUVIDO? Todo mundo tem que ser ouvido, vamos marcar uma reunião pra todo mundo falar”, respondeu em entrevista, inclusive, à TV Mirante

Não foi o que aconteceu. Como a comunidade não sabia da intenção do IHGC, cada um estava para sua roça, viagem ou qualquer outra ocupação típica da zona rural.

PM PRA INTIMIDAR



Diante desta situação, um grupo minúsculo formou-se, mas com a presença de dois policiais militares, levados num carro oficial da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, protestaram apenas com palavras que demonstravam sua indignação contra a forma como a retirada da panela estava se concretizando.

Enquanto um grupo ouvia a reclamação dos poucos moradores que se aglomeraram, outro cuidava de colocar a panela em cima de um caminhão. A notícia espalhou-se por Axixá, mas quando mais moradores chegaram já era tarde demais. O caminhão, com a panela, já havia saído.

Sandra Bonfim, disse que o Instituto agiu de forma errada porque deveria ter ouvido todos os moradores, também errou por levar a PM para, na opinião dos lavradores, intimidá-los. Também destacou que a panela era um símbolo da comunidade.

“Com certeza porque isso aí, como se diz, era um símbolo da comunidade que tava aí há muito tempo, isso daí não podia sair daqui, eles fizeram isso escondido, isso aí foi uma coisa escondida, que ninguém sabia daqui…DE SURPRESA? Foi muito de surpresa (…) trouxeram a polícia pra intimidar como esses outros que estão aqui viram, não pode isso daqui tem que ficar aqui”, disse indignada a lavradora

“TÃO INVADINDO”



Um dos mais antigos moradores de Axixá, o lavrador Raimundo Nonato da Silva, considerou o ato uma invasão da comunidade, porque faltou permissão de todos.

“Eu sou contra porque é da comunidade e não pode pegar sem autorização, não..AGORA JÁ TÃO LEVANDO? É, tão levando, mas tão invadindo”, disse com certa raiva em sua expressão.

Já o jovem Raimundo Nonato da Silva Fialho fez um sábio questionamento à imprensa presente – perguntou se ele poderia chegar em qualquer departamento onde trabalhava o repórter para pegar o que quisesse sem permissão.

“Eu sou contra porque o patrimônio da terra é isso aqui moço (…) Cê acha que eu posso chegar daqui da minha comunidade entrar lá no departamento que vocês trabalha chegar e levar uma coisa lá? Não tem como”, questionou Fialho

VALOR IMATERIAL DESRESPEITADO

Afora os poucos moradores que conseguiram presenciar a retirada da panela, somente o diretor do departamento de Igualdade Racial, da Secretaria municipal de mesmo nome, Francialdo Oliveira, defendeu o bem que os moradores consideram deles tentando convencer os integrantes do IHGC, sobretudo o presidente Ribamar Amorim e o advogado confrade Francisco Machado, de que era necessário ouvir os cidadãos de Axixá.

Francialdo, ignorado em seus apelos, chegou a se emocionar ao falar que a panela tinha muito mais que valor material, tinha uma ligação afro religiosa com a comunidade.

“A gente entende que essa panela, que esse instrumento que estava aqui tem um….VALOR RELIGIOSO? Muito pra comunidade, quem é de terreiro, quem é de religião sabe a importância de um  fundamento como essa panela tinha pra comunidade e pro terreiro, então assim levaram um pedaço da comunidade’, disse forçando-se a falar engolindo o choro e contendo as lágrimas
O diretor do departamento também criticou a forma como o Instituto realizou a retirada da panela com a presença da PM e desrespeitando a vontade dos moradores.

“Não houve nenhum conversa, junto com os  policiais, pegaram a panela botaram no carro e foram embora, e a comunidade fica como? Sem saber de nada…ALGUMA MEDIDA JURIDICAMENTE? Iremos conversar com a comunidade, com o presidente pra gente ver o que a gente pode fazer pra recuperar porque a panela não é minha, nem é sua, a panela é da comunidade, de todos nós”, disse

COMO PENSA O PRESIDENTE

Nós ouvimos o presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Codó. Ribamar Amorim disse que fez a retirada, da forma como aqui descrita, porque o artefato pertence à União e o Instituto Histórico representa o Governo Federal no município, além disso um ex-presidente da comunidade teria doado a panela ao IHGC.

No momento, os membros não apresentaram o documento de doação, apenas disseram que ela consta de uma ata do Instituto (pressupõe-se que houve uma reunião e o então ex-presidente teria prometido a doação da panela, o que teria ficado anotado nesta ata).

Os moradores questionaram a suposta doação alegada dizendo que atualmente o presidente da associação é outro e os moradores não sabiam da promessa do anterior.

Abaixo a transcrição do inteiro teor da fala de Ribamar Amorim sobre o episódio lamentado pela comunidade de Axixá, que continua chocada:

“Acélio, o que a gente ver o seguinte: todo artefato que é encontrado no solo brasileiro, pelo menos o brasileiro, você conhece a lei, então você sabe que pertence à quem? À União, a União, aqui no município, é representada única e exclusivamente pelo Instituto Histórico e Geográfico do Codó, dado a sua finalidade de resgatar a história, buscar os artefatos, então deveria já está com a gente”
“Foi doado pelo presidente da instituição da Associação (ex-presidente), agora, de repente, depois disso apareceu num terreiro que se intitulou dono do artefato e este artefato não pertence nem a comunidade, realmente. Este artefato estava numa fazenda de um juiz de Caxias e veio de lá mal acondicionado, tanto é que ela quebrou porque ela veio arrastada pelo chão, piçarra, estrada de piçarra e de pedra, trincou”

“Com isso nós estamos querendo o quê? Apenas resgatar a história, até reativar a comunidade que tá tão apagada porque não tem nada. Então a gente vai passar a dar o quê? Uma ênfase maior  pra comunidade diante um artefato que estava aqui na comunidade, isso não tira o mérito, nem também a peça de ser da comunidade, a gente sabe disso, nós temos alguns documentos do presidente anterior que nos doou o artefato (…) continua sendo um artefato que lembra a comunidade, então vai ficar cedido, uma seção de uso para apresentação do artefato sem eu devido lugar”, concluiu Amorim.

Abaixo depoimento, exclusivo para o blogdoacelio, de Francialdo de Oliveira, diretor do departamento de Igualdade Racial de Codó se posicionando contra a retirada da panela gigante contra a vontade da comunidade Axixa. ASSISTA


Fonte do Acélio

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