Em seu primeiro pronunciamento após assumir o poder, o presidente interino Michel Temer afirmou que o Brasil atravessa a “pior crise econômica” de sua história, mas deixou para outra oportunidade a apresentação das medidas amargas que precisará tomar para combatê-la.
Ele disse ter “compromisso” com reformas da Previdência Social e da legislação trabalhista, mas não detalhou o que pretende fazer nessas áreas e limitou-se a garantir que respeitará direitos garantidos pela Constituição.
Em outro momento, Temer anunciou que apresentaria “toda uma programação”, mas quem esperava uma lista com as medidas que ele pretende submeter à apreciação do Congresso Nacional ouviu apenas generalidades.
De certa forma, o primeiro discurso de Michel Temer deu continuidade ao processo de diluição que suas propostas parecem ter sofrido desde que ele começou a pensar a sério na possibilidade de ocupar o lugar de Dilma Rousseff.
Em outubro do ano passado, quando Temer divulgou um documento com ideias do PMDB para a economia, elas tinham a marca da audácia. Intitulado “Uma ponte para o futuro”, o documento propunha a fixação de idade mínima para a aposentadoria dos trabalhadores do setor privado, defendia o fim da indexação dos benefícios da Previdência ao salário mínimo e o fim de gastos obrigatórios com saúde e educação.
Economistas como os que foram recrutados para a equipe do novo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, consideram medidas desse tipo necessárias para equilibrar as contas públicas e permitir que a economia volte a crescer. Mas elas tendem a enfrentar forte oposição no Congresso, e por isso os peemedebistas mudaram de tom.
Na semana passada, quando o PMDB apresentou uma nova carta de intenções, “A travessia social”, propostas controversas como essas sumiram do papel para dar lugar a outras, de formulação genérica e fácil aceitação, como indica o quadro abaixo.
Em vez de detalhar medidas, Temer usou seu primeiro discurso para se apresentar como um conciliador. “Ninguém, absolutamente ninguém, individualmente, tem as melhores receitas para as reformas que precisamos realizar”, afirmou, indicando para o Congresso que está pronto para conversar.
Aos empresários o presidente interino prometeu um ambiente mais confortável para seus negócios, com reduzida interferência do governo. Para Temer, a atuação do Estado deveria ficar restrita a áreas como saúde, educação e segurança pública.
De olho na oposição, prometeu manter programas sociais como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida, que viraram marcas registradas dos governos petistas. Ao fazer isso, Temer elogiou até mesmo programas que têm sido apontados por seus colaboradores como ineficientes, como o Pronatec, que paga cursos para trabalhadores, e o Fies, que financia alunos de faculdades particulares.
Seguindo a cartilha de Henrique Meirelles, o presidente interino disse que está preocupado com a inflação e a dívida pública e indicou que aposta no capital estrangeiro como a principal fonte de recursos para a retomada dos investimentos no país.
Em seguida, prometeu incentivos para a indústria, o comércio, os serviços e a agricultura, “tanto a familiar quanto o agronegócio”. Não disse onde vai achar dinheiro para agradar tanta gente, mas deixou claro que não está preparado para falar de dificuldades: “Não vamos falar em crise. Vamos trabalhar.”
Por Ricardo Balthazar, Folha de S. Paulo
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